A Síndrome cruzada superior (Upper cross Syndrome) foi descrita pelo Dr. Wladimir Janda em 1979, por definição, uma alteração postural levando ao encurtamento de alguns músculos e inibindo a força de outros em padrão cruzado.
Apesar de a descrição patológica datar de 1979, a síndrome vem sendo sub-diagnosticada por muitos anos, muitas vezes sendo segmentada e não analisada de forma global no indivíduo.
Devido á utilização cada vez mais acentuada de dispositivos móveis, na correria do dia-a-dia, o índice de pacientes apresentando tal alteração tem crescido de forma exponencial, adotando a postura abaixo ilustrada, com anteriorização da cabeça(1), aumento da lordose cervical(2) e da cifose dorsal(3), além da elevação e anteriorização do ombro e escápula alada ocasionando um “desbalanço” muscular acentuado.
FIG 1. https://michelequiro.files.wordpress.com/2016/02/rieducazione_posturale.jpg
Os desequilíbrios musculares padrões são: encurtamento na parte dorsal dos músculos trapézio (fibras superiores) e elevador da escápula, na parte ventral encurtamento dos músculos peitorais (maior e menor) e devido a essas hipersolicitações/tensões há uma inibição cruzada, sendo na região frontal fraqueza de flexores profundos cervicais e serrátil anterior, cruzando dorsalmente fraqueza nas porções medial e inferior do músculo trapézio e rombóides. A figura abaixo ilustra melhor a posição adotada pelo paciente e as correlações de encurtamento versus inibição promovida por esse padrão postural patológico.
FIG 2. http://www.mouthmattersbook.com/mrsdalloway/wp-content/uploads/2013/12/Upper-Crossed-Syndrome2.jpg
Conforme citado anteriormente o diagnóstico realizado de forma separada, seja ele de patologia apenas cervical, ou apenas de patologia do ombro, não soluciona o quadro clínico do paciente como um todo, por isso a porcentagem de pacientes que retornam com recidiva das dores é alta, pois só parte do problema foi solucionado.
No caso específico do ombro, a postura de anteriorização de cabeça cria uma cascata de compensação postural, diminuindo a estabilização da articulação, principalmente devido a fraqueza do músculo serrátil anterior alterando o posicionamento da escápula (escápula alada). Esta perda de estabilidade decorrente da escápula alada faz com que a atividade dos músculos elevador da escápula e trapézio superior aumente a sua tensão, criando um ciclo vicioso para poder prover estabilidade ao complexo do ombro, intensificando o desequilíbrio muscular e aumentando o padrão postural patológico.
Os principais sintomas da SCS são: dores de cabeça, tensão cervical, dor na região dorsal, dor e crepitação no ombro (estalidos) e em alguns casos leve formigamento que se estende por todo o membro superior.
Os tratamentos que trazem bons resultados são aqueles em que se associam as correções posturais após trabalhos específicos de reequilíbrio dos músculos afetados, ou seja, não adianta apenas alongar os músculos encurtados e fortalecer os inibidos sem que haja um trabalho postural concomitante e a manutenção desta postura adquirida com exercícios sensório-motores pós-tratamento.
O acompanhamento durante a fisioterapia deve ser feito também no ambiente de trabalho dos pacientes, que é exposto a posturas erradas, principalmente relacionadas ao uso de computadores, portanto se aconselha uma análise ergonômica feita por fisioterapeutas para adequação do posto de trabalho, a fim de eliminar possíveis agentes causadores de recidiva da síndrome cruzada Superior.